quarta-feira, 22 de março de 2017

Eu não me culpo mais.

Sobre não estar preparado.

Filhos são nossas sombras, nossos medos. Cada vez essa frase faz mais sentido pra mim.
É lindo, é o amor mais profundo e sincero que alguém pode experimentar, mas no fundo é um resgate tão dolorido de quem você é e de como você foi criado.
Outro dia conversando com uma amiga, ela disse que teve aulas de francês quando pequena, mas cresceu e nunca mais cursou francês. Anos depois, viajando para França ela disse que o francês fluiu como se ela nunca tivesse parado. Ela não sabia como, mas sabia se virar no Francês. Fica claro pra mim que tudo fica registrado. E essa é minha grande preocupação e responsabilidade com minhas filhas.
Filhos alienados são criados por pais alienados. A gente deixa "a vida levar", vai no fluxo, vai aprender na vida, deixa que a sociedade explique, a sociedade está doente. A tv é nociva. A internet se não soubermos usa-la, mata ou torna crianças em verdadeiros adultos imbecis.
Mas não é bem sobre isso que quero falar nesse post, esse assunto renderia muito.

Não sou perfeita, e não QUERO mais me culpar por isso.
Sou tão empoderada, feminista, tão firme quando preciso, luto quando vejo injustiça, brigo com minha mãe pra defender a educação que eu quero aplicar nas minhas filhas, tento fugir da repetição de padrões que repudio, mas ainda me culpo. Por que?
A sociedade culpabiliza tanto a mulher. Chega disso.

Quando me vejo sozinha com elas,  num estado impaciente e exausto, por mais que passe parte do tempo agindo gentil e firmemente, como ensina a disciplina positiva, derrapo. É preciso aceitar nossas derrapadas.
Mais uma noite, nós três, livros, bagunça, banho, escova dentes, tomo meu banho rápido enquanto elas estão brincando sozinhas (taí a vantagem do irmão, que também pode ser um desastre pensando por outro aspecto), volto, louca para ler um livro e deitar ao lado delas. Acabo de ler a historinha, elas adormecem e eu vou ler o meu. Não, a realidade não é essa.
Lidar com a exaustão é o maior desafio na maternidade.
Hoje chorei, chorei para não gritar ou bater. Chorei porque me senti sozinha. Chorei porque cresci, tive filhos. Chorei porque não sabia o que fazer. Chorei porque as amo mais que tudo no mundo. Chorei porque tive medo. Desabei, na frente delas. E fui sincera com elas que me viram aos prantos. Mas chorar é o melhor dos calmantes, é mais do que necessário as vezes, não sei se na frente delas, mas ali eu não controlei.

Depois que Lara pegou no sono, Alicia veio me perguntar quais eram as minhas metas, eu ri, perguntei porque ela estava me perguntando isso. Ela disse que estava numa questão na escola e ela foi perguntar pra professora o que era meta.
Eu ri e respondi. Disse que a minha principal de vida era fazer delas mulheres incríveis e livres.
Ela disse: Igual a você mamãe!
Eu fiquei num misto de supresa e felicidade. Eu estava conseguindo, ela sabia pelo menos que eu me achava, ou tento, me achar incrível, que tento ser o meu melhor pra elas e principalmente pra mim.
E eu consegui responder: Sim!!
Esse blog tem o intuito de tentar livrar da culpa muitas mães que vem aqui me ler, mas na verdade o desabafo maior é pra mim, para EU me livrar. Para eu aprender comigo mesma e com elas.
Eu me livro dessa culpa. Eu tenho muito orgulho de mim.
Repito, mudando o verbo. Não sou perfeita, e não VOU mais me culpar por isso.
Estou lendo um livro chamado "Como criar crianças feministas"da Chimamanda Ngozi, uma autora nigeriana incrível e que fala justamente disso. Vale a pena a leitura.
Não, não adianta, nós não sabemos nada. Eles nos ajudam. Ter impaciência é normal, ficar cansada é normal, não saber lidar com uma situação é normal. Chorar na frente delas pra mim, foi libertador.
Minha noite valeu cada lágrima com a resposta da minha filha, e principalmente com a minha pra ela.