quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Por mais humanização

Eu já venho a bastante tempo me perguntando onde eu estava com a cabeça quando sentei naquela sala daquele obstetra e decidi marcar a data e a hora do nascimento das minhas filhas. Sim! Das duas.
Depois que me separei, comecei a me deparar com diversos assuntos tanto no universo feminino, quanto no materno, que deixavam minha mente em ebulição, fervendo de questionamentos e comecei a perceber que quanto mais eu consumia informação, mais eu me via resgatando "traumas".
Hoje estou aqui para tentar passar um mínimo de informação e dizer como é ilógico se fazer sem NENHUMA necessidade uma cesárea.
Sou mulher, mãe de duas meninas, e mais do que ninguém respeito a decisão de cada uma. Não posso nem julgar quem fez, pois estaria no bolo do julgamento. E jamais faria isso.
Não sou ativista, tampouco graduada para falar em termos técnicos e me aprofundar em assuntos que não domino, mas hoje posso falar sobre uma decisão que tomei, levada por falta de informação, falta de apoio vivendo em meio a uma sociedade grosseiramente capitalista.
Costumo dizer que ninguém é vítima, mas pela primeira vez me sinto. Vítima de uma sociedade pela qual nos deixamos levar pela "massa", repetindo padrões, repetindo erros, sendo apáticos, indo no fluxo, sem qualquer tipo de questionamento. As vezes eu me pergunto, no caso das mulheres, se é por medo ou falta de coragem, porque opção tem!!
É muito difícil se questionar, muito difícil sair do lugar comum. Realmente dá medo.
Tenho duas filhas saudáveis, tudo ocorreu "certo", mas dentro de mim mora um fantasma cruel, que vive dia e noite fazendo me deparar com esse arrependimento. Talvez eu repita a palavra "arrependimento" algumas vezes durante esse texto, espero que para as futuras mães que lerem isso, sirva de exemplo.
Hoje posso dizer que tudo que queria era voltar no tempo e ter tido minhas duas filhas de parto humanizado. Com total apoio, afeto, aconchego, liberdade, ciente do meu corpo, mente, orgulhosa da minha coragem e confiança.
Isso sempre me bateu muito forte depois que saí do meu "lugar comum" de cidadã anestesiada. Tarde demais talvez pra mim, mas não pra tentar levar essa informação a todas as mulheres que um dia sonham em ser mãe.
No início cheguei a achar que todas que eram engajadas no resgate do parto humanizado, só estavam ali para fazerem eu me sentir uma bosta por ter feito duas cesáreas. A pior mãe do mundo. Fraca. Mas não. Tenho certeza que passei por tudo isso com algum propósito.
Lendo, vendo documentários, depoimentos e conversando com amigas vi que somos todas vítimas. Cresci achando que parir poderia ser a pior dor do mundo. Cresci acreditando que o mais "seguro" a se fazer para ter seu bebe, era uma cesárea. Não culpo minha mãe, de jeito nenhum, ela teve os direitos e as escolhas dela, mas também tive esse exemplo em casa. Cresci achando que o conforto de uma maternidade cheia de "frufrus", com médicos especializados, aparelhos de última geração, era o lugar mais adequado e seguro para se parir.
Sempre levantei o discurso que não me arrependia de nada, que era a decisão a ser tomada, e a decisão era MINHA!!! Mas não!!!! Tive uma gravidez saudável, corpo saudável, bebês saudáveis, por que uma cesariana???
Porque se você não for atrás, não se informar, é muito difícil ter o apoio necessário para se parir naturalmente. Para muitos médicos, a primeira opção é a cesárea, a maioria não te apoia, não querem deixar de ganhar o que ganham em uma cesárea e não perdem consultas pagas esperando a gestante ligar a qualquer hora para acompanha-la. E repito, não estou aqui para julgar ninguém. Sou simplesmente mais uma mulher nesse mundo que é vítima da regressão que vivemos de uns tempos pra cá. Fico feliz de ver tantos movimentos a favor do parto humanizado sem agressão e pirações de ativistas julgando outras mães que ou optaram ou tiveram a necessidade de realizar uma cesárea. Até porque eu era a do discurso: "Ih não quero sentir dor não, se tenho a medicina tão evoluída por que vou ficar horas em trabalho de parto. Dá licença, eu escolho o dia, já me organizo toda e pronto." E assim foi feito. E por um bom tempo, achei que jamais me arrependeria.
Só queria poder dizer as mulheres e principalmente as mulheres que coloquei no mundo, que quando elas forem moças, que a mãe delas foi brava, guerreira e decidiu com sabedoria a forma mais sublime delas nascerem... mas não posso. Não posso, mas hoje sei que poderia!
Somos tão fortes!! Se tivéssemos consciência da nossa força esse mundo estaria muito diferente.
Hoje tenho 36 anos, ainda penso sim em ter mais filhos e caso isso aconteça, será que é possível ter um parto normal após duas cesáreas?
Escutamos muitas coisas durante nossa gestação, a sabedoria é se aprofundar  e saber o que é mito e o que é verdade. Cordão enrolado no pescoço, não impede um parto normal, o bebê ainda não ter encaixado, não impede um parto normal, e por aí vai.
Também não quero que mães de cesáreas tenham esse arrependimento, isso é coisa minha, cada uma tem a sua liberdade de escolha. Não me considero a pior mãe do mundo, muito pelo contrário, e também sei que minhas filhas jamais me julgarão pela minha decisão, mas acima de tudo quero poder ter a certeza que enquanto eu estiver viva, se elas optarem por ter filhos, terão todo apoio e informação possível para que entendam que parir é natural e não deve causar arrependimentos.
Acho que no fundo, o que falta mesmo para nós humanos é de fato mais humanização, em todos os aspectos da vida. Louco não?


Abaixo deixo um texto que pode servir de incentivo para muitas futuras mamães. Aproveitem e se informem sempre.



http://www.euqueropartonormal.com.br/eqpn/cesarea-x-parto-indices-de-seguranca-baseados-em-evidencias/


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