Desculpem a demora, é pensei muito, muito mesmo antes de postar. As vezes sofro desse "mal" que me pegou depois de uma certa maturidade, pensar demais. Eu era mais impulsiva, hoje ainda faço algumas merdas, mas elas são mais raras porque penso muito a respeito antes, mas continuo impulsiva.
Eu já
tinha escrito boa parte desse post, mas nesse tempo entre vivências e
pesquisas, tive experiências que não posso deixar de expô-las. Sendo também, que
pesquisando, acabei descobrindo matérias com títulos como :
"2014
foi um ano sexista para a mídia e publicidade."
Tudo foi juntando na minha cabeça e comecei a escrever, tentar colocar pra fora um pouco do que sinto e senti lendo o que li e vi.
Li também coisas como:
Não
sei o quanto disso é verdade, em relação a precisão da data, mas acredito que
um dia nós chegaremos lá, e lá eu terei orgulho de ter levantado a minha voz.
Assim como fez Emma Watson em "HerForShe" e diversas outras mulheres
poderosas, potentes e feministas.
Acredito
que a construção dos gêneros, se da através da dinâmica das relações sociais.
Os seres humanos só se constroem como tal em relação com os outros.
Forte
exposição à mídia, altera a nossa percepção da realidade social de
uma forma que corresponda ao mundo da mídia.
Por
isso cada vez mais venho olhando o que eu e minhas filhas consumimos. O que nos rodeiam, o que deixamos entrar na nossa casa.
Lógico
que muitas vezes isso foge ao nosso controle, amigos, escola, familiares, um ipad na mão... mas
acredito que inevitavelmente a formação se constrói no seu convívio.
Todas
nós nascemos praticamente com uma boneca na mão, pronta para para ser cuidada,
dar banho, mama, levar pra passear.
Pra
nós mulheres, a função maternidade já vem embutida, mesmo que não tenhamos
nenhum sonho em ser mãe um dia. E eu respeito muito as mulheres que optam por
não ter filhos. Direito delas.
Apesar
de acreditar que mesmo que não tenhamos nenhuma "boneca faz de conta que
sou mãe aos 5 anos", essa maternagem infantil é algo instintivo. Nossa
própria mãe, espontaneamente já nos cobra netos. Você se vê na escola fazendo
brincadeiras de quantos anos você vai casar, quantos filhos vai ter, se o
menino popular vai te querer... Não!! Eu que tenho que querer ele.
No
fundo nós mulheres, temos sim esse "dom". Dom de acalmar, de
acarinhar, cuidar, amar. Longe de mim dizer algo contrário dos homens. Existe
muito homem sem o chip patriarcal/machista embutido. Então, que me dê sim uma
boneca, que faça valer esse instinto, mas não me faça acreditar que é só isso
que sou capaz de fazer ou gostar. Porque sou menina, porque estou designada a
cuidar dos filhos, da casa...sozinha, porque o marido trabalha e chega
cansado.
Fomos
criadas por crenças limitantes, nos rotulam desde pequenos, nos
"subestimam", nos fazem acreditar muitas vezes que somos
incapazes, preguiçosos, birrentos, mandões, carentes, dependentes.
Crescemos
ouvindo o que queriam que ouvíssemos e isso obviamente fica encruado na gente.
Por isso educar é tão difícil. Se achar a mãe incorreta é assustador.
Tenho
certeza que nossos pais nos criam sem nenhuma intenção de nos limitar, achando
que é o certo. Mas cabe a nós, mesmo depois de uma vida ouvindo o que no fundo
detestaríamos ouvir, ter a coragem de expor sua personalidade real, quando tudo
vir a tona, lutar contra esse sexismo, machismo e até mesmo o feminismo de forma autoritária. Lutar contra essas limitações.
Meninas
desde novas, comumente são levadas a um ginecologista se vão dar início a sua
vida sexual, é tabu, é idealizado pelos pais, é motivo de dor muitas vezes.
Preciso falar dos meninos? Mas isso é criação. Pai machista gera filho
machista, pelo menos crescem indiretamente machistas. Mães submissas, geram
meninas submissas. Já estamos em 2015, não é possível, mulheres não são
inferiores aos homens. Nem superiores.
Tive
um exemplo clássico dias desses numa "área kids" da vida com minhas
filhas. Aparentemente um "espaço kids" normal, quando entrei na
salinha das meninas, havia um fogão, uma pia, tabuas de passar e prateleiras
com ferrinhos rosas de passar roupa.
Educadamente
fui saindo dali, tirando Lara dali, quando na saída ela senta num carrinho e
entra, um menino de uns 3 anos chega logo em seguida empurrando ela e querendo
a tirar dali, eu educadamente lhe disse:
"Tire
as mãos dela seu machistinha de merda!!!"
Não
brincadeira.
Eu
falei carinhosamente:
"Ei,
calma, um de cada vez, ela já vai sair e aí você brinca. tá bom?"
E
o menino resmunga:
"Mas por que ela tá aí, ela é menina!!"
Eu
devia ter ficado com a primeira opção. rsrs
Mas
é basicamente isso que tento falar.
97%
das princesas são submissas e nossas filhas crescem absorvendo ferozmente a
vida delas. Com exceção da Valente, da qual eu sou fã.
Seja
com filmes, seja com roupas ou produtos elas estão por toda parte. Os meninos
que crescem assistindo, também podem criar a idéia de que eles sempre chegam
para nos salvar. De que?
Ficam com a idéia, de que só terminamos felizes se arrumarmos um príncipe
e casarmos. Por que?
Tive
um clássico e por quê não também, belo exemplo dentro de casa. Dentro do que chamam de
padrão.
Meus
pais foram casados durante 30 anos, e só se separaram porque meu pai faleceu.
Durante toda a vida, minha mãe trabalhou, o que acho digno dela, ainda hoje
vejo padrões de mulheres que largam suas vidas para viverem as do marido, para
serem sustentadas por ele.
Então,
minha mãe se virava para cuidar de mim e do meu irmão, dava aula, pegava trem,
mas mesmo assim, devido a vida de mãe/esposa/dona de casa/trabalhadora, não
cultivou amizades. Acho que nem tempo pra isso buscava. Não viveu sua individualidade. Ela viveu pros filhos e pro
casamento.
Nunca foi conversado sobre homossexualismo, drogas e sexo dentro da
minha casa. Não estou dizendo que meus pais eram homofóbicos, caretas, blá blá blá, de jeito nenhum, eu talvez nem saiba na verdade.
Mas talvez não viam "necessidade" de falar sobre. Não os julgo, de
jeito nenhum. Temos escolhas nessa vida, as minhas são diferentes. Amo e admiro minha mãe infinitamente.
Tenho orgulho e muito carinho por ela, por tudo que fez por mim, por nós, eu e meu irmão. Orgulho do que ela passou para nos criar
e todos os valores de bem que foi passado pra nós. Mas não quero repetir o "padrão". Pelo menos o que não me faz feliz.
Não quero educar da mesma forma, agir da mesma maneira. Quero ser eu mesma. Aprendendo
em cada esquina que me deparo sozinha. Educar da minha maneira, com valores sim
que me foram passados, que mantenho em mim, mas com novos valores que a vida me
ensinou e que talvez nossas mães não aceitem hoje em dia.
Quero
que minhas filhas sejam elas mesmas, e que num futuro próximo, elas mostrem
isso para as filhas delas, se optarem por terem filhos lógico. Quero que
descubram o verdadeiro significado da palavra liberdade. Que sejam livres,
corajosas. Que leiam Simone de Beauvoir. Sartre. Que ouçam de Elis a Tulipa
Ruiz. Que conheçam Frida, Camille Claudel, Beyoncé, Anália Franco, Chiquinha
Gonzaga, Virgínia Woolf, entre outras.
Que
abusem, se lambuzem, arrisquem, e pintem com todas as cores do arco-íris.
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