sábado, 21 de março de 2015

"Destino: ser menina"




Desculpem a demora, é pensei muito, muito mesmo antes de postar. As vezes sofro desse "mal" que me pegou depois de uma certa maturidade, pensar demais. Eu era mais impulsiva, hoje ainda faço algumas merdas, mas elas são mais raras porque penso muito a respeito antes, mas continuo impulsiva. 
Eu já tinha escrito boa parte desse post, mas nesse tempo entre vivências e pesquisas, tive experiências que não posso deixar de expô-las. Sendo também, que pesquisando, acabei descobrindo matérias com títulos como : 
"2014 foi um ano sexista para a mídia e publicidade."


Tudo foi juntando na minha cabeça e comecei a escrever, tentar colocar pra fora um pouco do que sinto e senti lendo o que li e vi.
Li também coisas como:
 "Se as dificuldades e restrições enfrentadas pelas mulheres no universo do trabalho permanecerem as mesmas no Brasil, as igualdades de cargos e salários entre homens e mulheres só será alcançada em 2081." 
Não sei o quanto disso é verdade, em relação a precisão da data, mas acredito que um dia nós chegaremos lá, e lá eu terei orgulho de ter levantado a minha voz. Assim como fez Emma Watson em "HerForShe" e diversas outras mulheres poderosas, potentes e feministas.


Acredito que a construção dos gêneros, se da através da dinâmica das relações sociais. Os seres humanos só se constroem como tal em relação com os outros. 
Forte exposição à mídia, altera a nossa percepção da realidade social de uma forma que corresponda ao mundo da mídia.
Por isso cada vez mais venho olhando o que eu e minhas filhas consumimos. O que nos rodeiam, o que deixamos entrar na nossa casa.
Lógico que muitas vezes isso foge ao nosso controle, amigos, escola, familiares, um ipad na mão... mas acredito que inevitavelmente a formação se constrói no seu convívio.
Todas nós nascemos praticamente com uma boneca na mão, pronta para para ser cuidada, dar banho, mama, levar pra passear. 
Pra nós mulheres, a função maternidade já vem embutida, mesmo que não tenhamos nenhum sonho em ser mãe um dia. E eu respeito muito as mulheres que optam por não ter filhos. Direito delas.
Apesar de acreditar que mesmo que não tenhamos nenhuma "boneca faz de conta que sou mãe aos 5 anos", essa maternagem infantil é algo instintivo. Nossa própria mãe, espontaneamente já nos cobra netos. Você se vê na escola fazendo brincadeiras de quantos anos você vai casar, quantos filhos vai ter, se o menino popular vai te querer... Não!! Eu que tenho que querer ele.
No fundo nós mulheres, temos sim esse "dom". Dom de acalmar, de acarinhar, cuidar, amar. Longe de mim dizer algo contrário dos homens. Existe muito homem sem o chip patriarcal/machista embutido. Então, que me dê sim uma boneca, que faça valer esse instinto, mas não me faça acreditar que é só isso que sou capaz de fazer ou gostar. Porque sou menina, porque estou designada a cuidar dos filhos, da casa...sozinha, porque o marido trabalha e chega cansado.
Fomos criadas por crenças limitantes, nos rotulam desde pequenos, nos "subestimam", nos fazem acreditar muitas vezes que somos incapazes, preguiçosos, birrentos, mandões, carentes, dependentes.
Crescemos ouvindo o que queriam que ouvíssemos e isso obviamente fica encruado na gente. Por isso educar é tão difícil. Se achar a mãe incorreta é assustador.
Tenho certeza que nossos pais nos criam sem nenhuma intenção de nos limitar, achando que é o certo. Mas cabe a nós, mesmo depois de uma vida ouvindo o que no fundo detestaríamos ouvir, ter a coragem de expor sua personalidade real, quando tudo vir a tona, lutar contra esse sexismo, machismo e até mesmo o feminismo de forma autoritária. Lutar contra essas limitações.
Meninas desde novas, comumente são levadas a um ginecologista se vão dar início a sua vida sexual, é tabu, é idealizado pelos pais, é motivo de dor muitas vezes. Preciso falar dos meninos? Mas isso é criação. Pai machista gera filho machista, pelo menos crescem indiretamente machistas. Mães submissas, geram meninas submissas. Já estamos em 2015, não é possível, mulheres não são inferiores aos homens. Nem superiores. 
Tive um exemplo clássico dias desses numa "área kids" da vida com minhas filhas. Aparentemente um "espaço kids" normal, quando entrei na salinha das meninas, havia um fogão, uma pia, tabuas de passar e prateleiras com ferrinhos rosas de passar roupa.
Educadamente fui saindo dali, tirando Lara dali, quando na saída ela senta num carrinho e entra, um menino de uns 3 anos chega logo em seguida empurrando ela e querendo a tirar dali, eu educadamente lhe disse: 
"Tire as mãos dela seu machistinha de merda!!!" 
Não brincadeira.
Eu falei carinhosamente:
"Ei, calma, um de cada vez, ela já vai sair e aí você brinca. tá bom?" 
E o menino resmunga: 
"Mas por que ela tá aí, ela é menina!!" 
Eu devia ter ficado com a primeira opção. rsrs
Mas é basicamente isso que tento falar. 
97% das princesas são submissas e nossas filhas crescem absorvendo ferozmente a vida delas. Com exceção da Valente, da qual eu sou fã. 
Seja com filmes, seja com roupas ou produtos elas estão por toda parte. Os meninos que crescem assistindo, também podem criar a idéia de que eles sempre chegam para nos salvar. De que? 
Ficam com a idéia, de que só terminamos felizes se arrumarmos um príncipe e casarmos. Por que?


Tive um clássico e por quê não também, belo exemplo dentro de casa. Dentro do que chamam de padrão.
Meus pais foram casados durante 30 anos, e só se separaram porque meu pai faleceu. Durante toda a vida, minha mãe trabalhou, o que acho digno dela, ainda hoje vejo padrões de mulheres que largam suas vidas para viverem as do marido, para serem sustentadas por ele.  
Então, minha mãe se virava para cuidar de mim e do meu irmão, dava aula, pegava trem, mas mesmo assim, devido a vida de mãe/esposa/dona de casa/trabalhadora, não cultivou amizades. Acho que nem tempo pra isso buscava. Não viveu sua individualidade. Ela viveu pros filhos e pro casamento. 
Nunca foi conversado sobre homossexualismo, drogas e sexo dentro da minha casa. Não estou dizendo que meus pais eram homofóbicos, caretas, blá blá blá, de jeito nenhum, eu talvez nem saiba na verdade. Mas talvez não viam "necessidade" de falar sobre. Não os julgo, de jeito nenhum. Temos escolhas nessa vida, as minhas são diferentes. Amo e admiro minha mãe infinitamente. Tenho orgulho e muito carinho por ela, por tudo que fez por mim, por nós, eu e meu irmão. Orgulho do que ela passou para nos criar e todos os valores de bem que foi passado pra nós. Mas não quero repetir o "padrão". Pelo menos o que não me faz feliz. Não quero educar da mesma forma, agir da mesma maneira. Quero ser eu mesma. Aprendendo em cada esquina que me deparo sozinha. Educar da minha maneira, com valores sim que me foram passados, que mantenho em mim, mas com novos valores que a vida me ensinou e que talvez nossas mães não aceitem hoje em dia.
Quero que minhas filhas sejam elas mesmas, e que num futuro próximo, elas mostrem isso para as filhas delas, se optarem por terem filhos lógico. Quero que descubram o verdadeiro significado da palavra liberdade. Que sejam livres, corajosas. Que leiam Simone de Beauvoir. Sartre. Que ouçam de Elis a Tulipa Ruiz. Que conheçam Frida, Camille Claudel, Beyoncé, Anália Franco, Chiquinha Gonzaga, Virgínia Woolf, entre outras.
Que abusem, se lambuzem, arrisquem, e pintem com todas as cores do arco-íris. 







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